2.1.07

mudar de casa

Esta já é a nona casa da minha vida. Vivi em 8 casas, e durante o meu vigésimo quinto ano de vida mudo-me para a nona casa. Ao fim alguns anos de experimentada vida de cigana, com a casa às costas, perdia sempre parte do registo da minha vida (desenhos, roupas, brinquedos). Sempre me diziam, os menos crianças, que a vida ganha novas coisas, para preencher as deixadas para trás. Mas essas coisas sempre me deixaram vácuos, buracos vazios...nunca as recuperei e muito menos consegui camuflá-las, com coisas novas!

Então passei a achar que se as largasse seria mais fácil esquecer-me delas, porque tinha sido eu a decidir deixá-las. Mas quem disse que os desenhos rasgados, as maquetas destruídas e um infindável número de coisas nunca feitas deixavam menos buracos vazios dentro de nós? Enganou-se!

Lixo chamam-lhe os mais minimalistas que pretendem casas limpas respiráveis de vacuidade, memórias sem fantasmas lugares "brancos" para tentar não os pisar de novo...engana-se novamente! Os passos estão marcados no corpo, nem estão nas coisas, estas servem-nos apenas de âncoras a agarrar-nos à matéria, que nos impõe a gravidade da condição humana!Uma coisa poucas vezes significa exactamente a mesma coisa para todos nós há sempre pequenas variações.

Mudar de casa impõe-se que seja um acto de escolha expedito, sem olhar para trás! No amor não chega olhar para o passado e muito menos avançar para o futuro. A vida é aqui e agora, a mudança é aqui e agora, não se pensa se vai ou não resultar, é pensado mas inconsequente, ninguém adivinha o amor de amanhã, mesmo sendo o mesmo espero-o sempre em si diferente de ontem e decepcionante de expectativas futuras. Amo-o hoje e o hoje é sempre todos os dias.

in vaziodegente 2006

Sem comentários: