31.1.05

Como puxar para fora de nós a forma de habitar do espírito e de extinguirmos os conflitos entre corpo e alma?

Natasha acordara de repente encontrava-se numa tal escuridão

que jamais conseguiria identificar o sítio em que estava, via apenas silhuetas dentro da sua cabeça, chamavam-na, choravam e por vezes via-as gesticularem sem que nada dissessem. Levando as mãos à cabeça numa

tentativa de as tirar para fora de si para lhes conseguir falar, e sentir,

viu que lhe tinham rapado todo o cabelo de que se lembrava ter .
Levantou-se do chão, sentiu-se fraca, as pernas não pareciam obedecer à sua vontade,. Esticou os braços para ver se tocava em alguma coisa... Mas, nada! Então sentiu o


desânimo da alma

fazer tombar-lhe as pernas e depois todo o resto do corpo, nada nem ninguém a poderia tirar dali.

(...)

uma casa abandonada perto do mar,


onde a água batia com raiva nos calhaus, que gritavam de dor ao serem projectados uns sobre os outros. Esse pequeno casebre estava muito próximo do rochedo, que sombreava todo o calhau ao por do sol . Já sem telhado, apenas lhe restavam as pedras das paredes, invadidas por ervas daninhas, e lagartixas,
(...)
De repente tudo desapareceu, e escondeu-se ainda mais para dentro da sua cabeça, como se a sua alma se envergonhasse da pessoa que se tinha tornado... que pena , não se lembrar exactamente das feições , das expressões dos rostos daqueles que habitaram o seu passado. Que pena ter tido que racionalizar a memória, para que esta se prolongasse no tempo... que pena ter substituído a memória virginal, dos cheiros, dos sentimentos, das cores, das vozes, por códigos linguísticos... para que ocupassem menos espaço, na esperança de que outras memórias tão ou mais importantes as complementassem ...


E agora o que lhe restava?

Marta Sofia Freitas, 2002



1 comentário:

Anónimo disse...

Em vez de arquitecta vai ser escritora... muito bem... muito bem.:))