11.4.05
"(...)as vozes da noite(...)ocupando todo o espaço do sono(...)"
conversas_ocupando_sono
(...)
Põe, digo-te, uma pedra de silêncio sobre
essa infância essa fala ineterrupta essa
falagem que falha e promete e inventa
os sonhos e as promessas o riso sem porquê
(...)
Enterra no silêncio da pedra essa intolerável coisa
que é a infância, as vozes da noite do poço.
Apaga a infância isso que falta sempre à
chamada e para sempre trocou já os desejos e os medos.
(...)
petrificava-se no seu coração de pedra
dividia-se e eram várias crescendo; ocupando
todo o espaço do sono, do sonho do mundo.
Pesavam no teu peito procuravam-te os olhos
que de pedra ficavam e o grito era uma pedra.
O próprio ar golpeado era e dividia a voz
pedra contra pedra, o deserto a perder de vista.
Põe uma pedra sobre outra pedra. Inventa uma
outra infância de que possas
recordar-te.
in "Uma pedra na infância"; "migrações do fogo", Manuel Gusmão
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