20.8.06

desocupar o tempo

Irrita-me um bocado aquele pretensiosismo de alguns arquitectos que pensam "mundos e fundos" ao milimetro em cada cantinho. Tudo tem uma função imediata, cronometrada, métrica, como se as funções biológicas comer, dormir, sentar, levantar, trabalhar nos tornassem autómatos e espartilhados numa ditadura imposta pela análise externa, complexa e específica de cada parte de nós. A arquitectura parece ter-se fatalmente tornado numa sala de dissecação de carcaças humanas, à boa maneira de "O admirável mundo novo", onde Aldous Huxley descrevia "linhas de montagem" humanas que "formatavam" à nascença a vida de cada um, correspondendo aos seus apetrechos de origem.
Há horários para tudo, há lugares e mini-lugares para tudo. Qualquer dia teremos de picar o ponto ao deitar e ao levantar e estas horas de descanso, ou até de fazer nenhum, serão descontadas nos impostos. Ouvi falar de umas cápsulas de descanso onde se paga caro para "cochilar" uns miseráveis vinte ou trinta minutos, ainda por cima na cápsula onde já muitos se deitaram! Arrepia-me esta ideia! Antes prefiro sentar-me num banco de jardim e recostar-me a apanhar um solzito!

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