31.10.06

Psicose social

A vida para a maioria das pessoas sãs é sempre um valor a defender! Não ponho porém a mão no fogo por toda a gente! Psicopatas, gente fútil, indigentes, basicamente anormais sempre os houve por todo o lado! Mas então aí extrapolaríamos a discussão para a capacidade racional, afectiva, e educativa que já deveria ter sido adquirida apriori na formação, crescimento, criação e educação de um ser humano.

Se partimos do princípio que esta lei viria a alargar o leque de pessoas que nunca antes teriam posto a vida de um seu futuro filho em causa então aí deveríamos intervir não colocando um polícia à porta de cada bloco operatório nos serviços de urgência ou mesmo nos centros de saúde, não atirando pedras a todas as mulheres que se soube publicamente 1 terem abortado, mas sim intervindo na base da nossa condição trituradora portuguesa contemporânea, onde os familiares se demitem permanentemente da criação 2
; onde se julga que as pessoas deveriam passar ainda mais tempo e durante mais anos enfiados no trabalho e na escola, em última análise atirados para consigo próprios; onde se incentiva indirectamente quem não tem filhos e se penaliza quem decide ter uma família numerosa 3.

Na prática o que acontece, ao não despenalizarmos o aborto até às dez semanas (para quem não sabe para além de não existir um método contraceptivo que seja 100% fiável, embora a margem de falha seja cada vez menor, as 10 semanas correspondem a dois períodos menstruais atrasados, o que às vezes acontece às mulheres, sem que estas estejam necessariamente grávidas,por amenorreias, quistos ou outros motivos de saúde) ,é que aquelas a quem vamos nós sociedade (
retrógada, mesquinha, beata, levianamente castigadora do imaginado modus vivendi dos outros,que psicoticamente acreditamos que o outro nunca terá capacidade nas escolhas da sua vida, mas esquece-se que para o outro nós é que somos o outro, logo nós também não temos capacidade de decisão), vão quer mude ou não mude a lei continuar a ir hipócritamente a madrid abortar e quiçá um pulinho às compras.

Os médicos que trabalham nos serviços de urgência que todos os dias recebem estas mulheres com graves hemorragias têm de algumas vezes comunicar duas mortes aos seus familiares, o óbito da mulher e o do respectivo feto. Como se não bastasse o sofrimento de ter abortado as que sobrevivem ainda recebem o castigo "divino" da infertilidade, ou de outro tipo de problemas físicos,isto sem mencionar as condições psicológicas em que estas ficam. Pela desinformação, pelo medo, pela falta de apoio e ajuda, ou mesmo pela pressão "beata" do meio social e cultural onde ainda lhes dizem que é pecado ter relações sexuais fora do casamento, onde se condena o uso de métodos contraceptivos (o aborto não é um contraceptivo, é um último, doloroso e indesejável recurso, e por isto contêm já em si uma grave pena a autoculpabilização e dores físicas para as respectivas).

É por isto e por tantas outras razões que fico completamente estarrecida com estas coisas.





1 E das que não se sabe terem abortado por o terem feito em condições de higiene, segurança não correndo os riscos das que não gozaram de um fim de semana fora do seu país e tudo o que tiveram foi um vão de escadas e num dia de trabalho, como vai o ESTADO PORTUGUÊS penalizar, prender, multar, condenar moralmente, se não soube, não viu, não conhece?

2 Criar, palavra votada ao esquecimento, necessariamente diferente de EDUCAÇÃO, os pais servem para criar os filhos, ajudá-los a adaptar-se às “rugosidades” do mundo)


3 Imagine-se os encargos de quem tem três filhos em universidades públicas em simultâneo a pagar a propina máxima (920 euros, que todos os anos aumenta 20 euros) isto se se esforçaram o suficiente para não gastar ainda mais numa privada; deslocados de casa (se for em Lisboa nunca se consegue alugar um quarto por menos de 200 euros por mês, embora raros, e também alugar uma casa, mesmo que um T2 nunca será menos de 650 a 750 euros por mês, ainda fazem os pais o sacrifício de 50 ou 150 euros por mês para os juntar a todos na mesma casa), para além dos transportes, (metro e autocarros na zona L são cerca de 20 e tal euros por mês, e como o passe é pessoal portanto isto será multiplicado por três), alimentação (nos refeitórios praticam-se preços razoáveis consegue-se almoçar com cerca de 2 euros, embora não esqueçamos que as pessoas têm também de tomar o pequeno almoço, o lanche e o jantar)e gastos com materiais e livros (embora os gastos num curso de medicina e aqruitectura, não sejam os mesmos dos de relações internacionais, psicologia ou mesmo matemática, é tudo tabelado pela bitola mais baixa, que nem chega a abranger os gastos dos últimos, será que os srs das finanças pararam no tempo e não fizeram a actualização dos gastos) É que efectivamente existem gastos supérfluos como o tipo, marca e preço das roupas que se usam. O caviar ou papas de aveia que se podem comer. A plotagem a cores ou a preto e branco que se pode optar, embora seja necessário mostrar pelo menos o trabalho impresso (nenhum professor corrige no computador. A fotocópia integral de livros de medicina (embora seja crime, há quem n tenha dinheiro para outra opção) ou a compra destes a prestações a 20 ou trinta contos mensais. A compra de um carro ou de um passe para todos os transportes. O pagamento de um quarto com ajudas do estado numa residência de estudantes ou numa casa particular.


propina máxima 920 euros x 3filhos = 2760 euros por ano lectivo

casa 200euros x 3filhos x 12 meses = 7200 euros por ano (os senhorios n deixam interromper o pagamento nas férias)

passe L 25euros x 3filhos x 9 meses = 750 euros por ano lectivo

alimentação(almoço cantina) 2euros x21dias úteis(média) x 9 meses= 378 euros por ano lectivo

alimentação (pequeno almoço, lanche, jantar) 7euros x 3 filhos x30 dias mês x 9 meses =5670 euros por ano lectivo

Total 16 758 euros por ano na formação de três futuros contribuintes.

Isto se :

-andarem nús;

-ficarem quietinhos em casa;

-não lerem;


-não virem filmes;

-não forem a espectáculos;

-não viajarem;

-não fizerem exercício físico (mesmo que não se pague para andar a passo rápido na rua, paga-se para comprar um calçado e roupa adequada ao exercício).

-não regressarem à sua casa, nem mesmo no natal, os bilhetes são caros (estudante residente na madeira ou açores nunca pagará menos de vinte e tal contos, cada um)


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