12.3.07

Rebanho moderno

Fala de Maurice Merleau-Ponty como se já o tivesse lido, leu por acaso a "Fenomenologia do Espaço", devia lê-lo antes de falar do mofo do mesmo!


Caro colega aconselho-o também a ver os filmes de Jacques Tati, principalmente o "Mon Oncle" e o "Playtime", logo compreenderá ao que me refiro e tanto abomino.

Acho que a todos nós que, de forma fácil e imbecil, tendemos a considerar-nos um "rebanho" pensante (como únicos possuidores de ferramentas e conhecimentos suficientes que supostamente deveriam salvar as cidades e o território) falta um bocadinho de cultura histórica. História esta que as facções marxistas tentaram negar e mesmo liquidar do pensamento Europeu.

Veja-se que a arquitectura não pode ter como doutrina exclusiva um pensamento de salubridade que fizeram que muitas das cidades pré-existentes se tornassem em apêndices, satélites e por fim em"fantasmas" das "villes radieuses"( a cidade ideal, perfeita, pensada de raíz de forma a organizar a vida das pessoas como se o ser humano se bastasse como autómato). Entendera-se o homem como repositório de "orgãos" vitais separados entre si, trabalho, casa, lazer e vida comunitária. Se ler a "Fenomenologia do Espaço" entenderá que erradamente nos julgamos num mundo cartesiano onde descer é o mesmo que subir, desde que tenha a mesma distância. O que até uma criança saberá que não é verdade. De uma forma racional, funcional e métrica um caixão serviria para nos guardar, mas isto também não é verdade pois não?! As igrejas, os Jerónimos, os pés direitos das salas de espectáculo, uma gruta, uma cabana, um apartamento, uma casa, ou uma prisão seriam deste modo absolutamente iguais desde que cumprissem requisitos de salubridade, de áreas mínimas, de captação e perdas de energia tabeladas. Tudo porque pensaram o homem como um bicho com necessidades tabeladas. Como exemplo disto leia (se me permite) o "Admirável Mundo Novo" de Aldous Huxley e o "Nós" de Zamiatine.

Se desta doutrina higienista resultasse necessariamente boa arquitectura para as pessoas (para quem é feita, nunca se esquecer! Fala-se demasiado no "objecto" arquitectura, esquece-se do CORPO arquitectura, não é um somatório de partes e conveniências é um único corpo para o corpo) então teríamos o problema das cidades resolvido. E não está pois não?!

Todos os subúrbios são obviamente deturpações dos "dogmas" modernistas, da carta de Atenas, da "garden City" e da "broadacre City". Mas alguma vez estes "documentos" com "mandamentos" de como bem planear um edifício e o seu espaço urbano serviram para resolver os problemas habitacionais das pessoas? Mas serão todas as pessoas capazes de dispensar o solo para morar em "gavetas" comunitárias ,onde se deambula em galerias, se ouve o autoclismo do vizinho e se apanha com o pó sacudido pelo vizinho de cima (e aqui ainda estamos a falar, apesar de tudo, de um campo aonde as pessoas têm comportamentos aceitavelmente civilizados, imagine-se doutra forma). Todas estas doutrinas dogmáticas seriam verdadeiras teorias “radieuses” se a humanidade não fosse toda ela corruptível e passível de falha.

As teorias são formas explicativas e críticas de abordar o mundo, mas nunca poderão ser manipulativas, como o modernismo tentou lavar cérebros e medir “corpos”, “enchouriçando-os” em espaços optimizados. Mas que imbecil nos tratou como cadáveres onde o corpo inanimado pode ser manipulado como coisa e colocado aonde a massa de betão mais lhe aprouver.

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