26.8.08

Comentário inteligente

Mas eu acredito que vocês, arquitectos, sofram nesta sociedade obcecada pela imagem e pelo imediatismo, pois se há coisa que nos é constantemente transmitida é que tempo é dinheiro e então tudo tem de ser processado de uma forma rápida, simples e eficiente onde etapas de estudo prévio e consciencialização da realidade existente antes da intervenção, são erradamente abreviadas e desvalorizadas.

Relativamente ao que me tinhas falado do arco parabólico catenário de Gaudí fui investigar e já tinha ouvido falar da técnica mas não me foi transmitida como uma criação de Gaudí. Contaram-me que o emprego desta técnica já remonta aos anos que antecederam o nascimento de Cristo.

E essa técnica muito utilizada por Gaudí, que careceu durante muito tempo de uma explicação física, penso que foi disseminada pela via teórica, com recurso à matemática e à física pelo famoso matemático e físico suíço Leonhard Euler. E alguém depois dele deve ter continuado esse trabalho.

O que é certo é que Gaudí usou e abusou desta técnica tendo apurado o seu conhecimento.

Os arcos resultam em estruturas bastante interessantes. Quando penduramos uma corrente ela assume uma determinada forma, que depende unicamente do seu peso próprio, ou seja, a corrente está traccionada em função das forças do peso próprio.

Ao colocarmos dois pesos em dois lugares diferentes dessa mesma corrente, esta assume uma configuração diferente, adaptada às novas forças que tem que suster.

Se eu inverter a corrente, esta ficará carregada no sentido inverso e corresponderá à forma perfeita de um arco com capacidade de suporte face às forças que anteriormente apliquei na corrente.

É um bom passatempo tentar construir um arco com pedras na praia e colocarmo-nos no cimo do mesmo, verificando que o arco está apto a resistir à força do nosso peso.

Um esforço de flexão é um esforço que tende a curvar o eixo longitudinal da peça. Imaginem uma régua de plástico. Se eu pegar nas duas extremidades e tentar dobrar a régua estou a impingir um esforço de flexão. Se, por outro lado, agarrar nas duas extremidades da régua e tentar aumentar o comprimento desta “esticando-a”, estou a imprimir um esforço axial (ao longo de um eixo). Neste caso o esforço axial designa-se de tracção porque estou a esticar a régua e não a comprimi-la (compressão).

Os arcos são estruturas preferencialmente sujeitas a esforços axiais. Para resistir à flexão um elemento necessita de ser “gordo”, para “não se deixar dobrar”. Para resistir ao esforço axial nem tanto. Por isso os arcos podem resultar em estruturas extremamente leves como é o caso do arco da ponte D. Maria Pia no Porto.

O famoso Eng. Edgar Cardoso projectou a Ponte da Arrábida, também sobre o rio Douro, recorrendo a um arco. O interessante deste caso reside no facto deste Eng. ter concebido modelos à escala, com carregamentos também na respectiva proporção, o que lhe conferia uma visão e conhecimento da estrutura melhor e mais exacta do que qualquer formulação matemática, pois ele tinha no seu modelo a interacção de muitas variáveis que mais tarde interferem e estão presentes na estrutura real.

Isto também dava mais alguns parágrafos priminha.


do meu primo João Miguel Cerdeira, na caixa de comentários do post "casa"

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