20.10.08

walk through

Apoderou-se dele como que uma febre,ao pensar que podia perdê-la, que (...) podia fugir-lhe! Temia que ela mudasse muito simplesmente de ideias se ele não entrasse rapidamente em contacto com ela. Mas os obstáculos físicos a um encontro surgiam enormes. Como tentar fazer um lance de Xadrez depois de ter sido derrotado com xeque-mate. (...)Na realidade, passaram-lhe pela cabeça,(...), todas as formas possíveis de comunicar com ela; mas agora, com tempo para pensar, examinou-as uma a uma, como se alinhasse sobre a mesa uma série de instrumentos.

Obviamente, o tipo de encontro que se verificara nessa manhã não devia repetir-se.(...)

Por fim, chegou à conclusão de que o local mais seguro talvez fosse a cantina. Se conseguisse apanhá-la sozinha numa mesa, algures a meio da sala,(...), e com bastante burburinho à volta- se essas condições se mantivessem durante, digamos, uns trinta segundos, talvez se proporcionasse trocar algumas palavras.

(...)ela só apareceu na cantina quando ele ia a sair.(...)Passaram um pelo outro sem se olharem sequer.(...) Depois(...) não apareceu. (...)sentiu o corpo e o espírito atormentados por uma sensibilidade intolerável, uma espécie de transparência, que transformava em pura agonia cada gesto, cada som, cada contacto, cada palavra ouvida ou pronunciada. Nem mesmo a dormir se libertava totalmente da imagem dela. O pouco alívio que encontrava cingia-se ao trabalho(...).Não tinha o menor indício quanto ao que pudesse ter acontecido à rapariga. Nem qualquer meio de se informar.(...)podia ter simplesmente mudado de ideias, decidindo evitá-lo.

in Mil Novecentos e Oitenta e Quatro, George Orwell

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