27.2.09

das proezas arquitectónicas

Zabalbeascoa: O Sr. considera que a 'arquitetura de ícones' não possui nenhum componente social ? Os monumentos não singularizam as cidades ?

Pallasmaa: Creio que a idéia de um monumento referencial está sendo muito explorada hoje. De tal modo que serviria para justificar qualquer 'proeza' [hazaña]. Mas temo que este tipo de Arquitetura serve a fins muito egocêntricos e limitados, ao contrário de uma Arquitetura que se ancore [ancle] nos seres humanos do mundo, ao invés de impor sua presença. A Arquitetura de hoje se descuidou dos sentidos, mas não é só isso que explica sua desumanidade [inhumanidad]. Ela não é feita para as pessoas. Tem outros objetivos, alheios ao uso pelos cidadãos. De tal modo que a Arquitetura se tornou uma arte visual. E, por definição, a visão te exclui do que estás vendo. Vê-se desde fora, enquanto que a audição [el oído] te envolve no mundo acústico. Nesta linha de raciocínio, a Arquitetura deveria envolver através da tridimensionalidade. O tato nos aproxima do tocado. Por isso, uma arquitetura que enfatiza a visão nos deixa 'fora de campo'
.

Juhanni Pallasmaa in http://www.vivercidades.org.br/publique222/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1115&sid=19 autor de "The eyes of the Skin".

5 comentários:

jraulcaires disse...

A arquitectura sempre foi pensada como uma arte visual, se exceptuar-mos a arquitectura vernacular.

Era assim "quando as catedrais eram brancas", foi assim ao longo de todo um programa após o Renascimento, também foi assim para alguns arquitectos do Iluminismo.

A arquitectura com preocupações sociais teve a sua origem no alvor da revolução industrial.

Só a Arquitectura moderna, nos seus alvores, procurou conciliar as preocupações sociais com a Arquitectura entre as artes visuais, mas de modo um bocado forçado. Era proposta toda uma utopia para um homem utópico...

Como se fosse possível propor para a função de habitar uma espécie de "líquido amiótico" capaz de responder a todas as necessidades de um ser humano, que trabalha x horas por dia, tem x horas de lazer por dia etc... - com conforto térmico, acústico, total, sob o sol, no seu périplo quotidiano, e ainda capaz de satisfazer as suas necessidades espirituais - através da arte - tudo isto de modo "holístico" e integrado. Pensava-se então que a Arquitectura podia ser uma arte total. Note-se que hoje em dia, as pessoas que vivem na unidade de habitação de Marselha não querem outra coisa como atesta o site que têm na internet.

O problema surge quando é preciso fazer cidade. Brasília é uma estrutura monumental. Não funciona, no entanto, na prática, mau grado todo o seu virtuosismo plástico dos seus edifícios...

Depois do movimento moderno, podemos pensar que muitos arquitectos como Christopher Alexander, por exemplo, que chegaram a trabalhar a partir da favela nos seus estudos, não chegaram a atingir resultados significativos. A preocupação com o significado da Arquitectura, com uma mais estreita ligação às ciências humanas levou a uma espécie de "over design", durante os anos 60, que acabou por levar a várias reacções.

Tenho preguiça para escrever.

Nos tempos que correm, os "media" são uma coisa extremamente importante. Depois da Galáxia de Guttenberg.

Na verdade, esta Arquitectura para "vouyers", nem chega a ser verdadeiros monumentos, como os de Boullé, sólidos platónicos, mas imagens, coisas que se consomem pela retina.

Mesmo escritórios que começaram por outra via, como, por exemplo, Herzog&Meuron, acabaram por ceder.

Mas continuam a existir alternativas no campo da Arquitectura

A pintura, que é para ser vista, não exclui o observador. Mas a pintura funciona no plano, embora possa ter várias dimensões, e tem, certamente.

Mas quando a Arquitectura é feita assim, como imagem pela imagem...

Não me interessa nada. Se calhar a Artquitectura nos mnossos dias não precisa tanto de um falso "glamour" como tanto aparece, mas de alguma capacidade de resolver alguns problemas que só aparentemente são simples

jraulcaires disse...

peço desculpa por algumas gralhas como "exceptuar-mos", por exemplo

Marta disse...

Olá jraulcaires, seja bem vindo. Sim tem razão no que diz, mas agora também estou com preguiça para responder como merece e como devia responder. Contudo se já leu "a Fenomenologia da Percepção" de Maurice Merleau-Ponty, leia e já agora este livrinho do Juhanni Pallasmaa, "The eyes of the skin", que penso ainda não haver tradução em português. Boa noite. Estou a rir-me com coisas menos edificantes, que me põem o cérebro de molho, como o Festival da Canção. ahahah!

jraulcaires disse...

Acolho de bom grado a sugestão, o livro parece interessante. Não há dúvida que devemos ser de gerações diferentes. Essa coisa, o festival da eurovisão ainda existe?

Sempre foi "pitoresco"

Ainda me lembro dos ABBA, acho que é assim que me lembro, que por acaso até não são maus músicos, mas têm um péssimo gosto.

Já não vejo isso há uma data de anos.

Enfim...

Marta disse...

Não faço questão de ver. Mas acho que não há "Contemporâneos", nem "gatos fedorentos" que batam estas preciosas figurinhas do festival. Aindo estou estúpida do fim de semana. Estou à espera que o cérebro volte de férias das "bermudas festivaleiras" a ver se escrevo qualquer coisa de jeito.
A cabeça anda muito fraquinha, pensa fraquinho, ando muito medíocre. Tenho fases assim.
Paciência tenho de me habituar a mim, não vale a pena esforçar o motor não vá o cérebro desfazer e eclipar-se para sempre.
ahahaha
Isto aqui anda muito mau, pela hora do circo. É uma autêntica palhaçada. Dias melhores virão. Espero!
Pois a sua geração não sei, mas a minha roça a dos morangos com açúcar e perdeu o comboio da geração rasca. Por isso julgo que se o Papa permitir encontramo-nos no Limbo. É assim andamos presos a coisa nenhuma. Valem-nos os recibos verdes.