14.7.10

mediação

Nas escolas ensinam aos meninos o ciclo da água, desde a nascente dos rios à foz no mar, evaporação e chuva. É um ciclo que mais ou menos linear, vive da dinâmica de transformação de um bem, a água.

Nas escolas também deveriam ensinar aos meninos o ciclo do dinheiro. Bem sei que é um ciclo complexo, porque existe a multiplicação ou desaparecimento do dinheiro pelas operações virtuais e especulativas dos mercados. Onde se pode roubar legalmente numa espécie de “casino” de apostas de risco elevado.

Contudo ensinaram que antigamente as pessoas faziam trocas directas entre bens e que tinham consciência de que a troca de um “animal” e (dependia deste animal) valia muitas hortaliças e cereais em troca. Transpondo para uma operação virtual, a troca monetária, que foi criada, aquando do surgimento das trocas comerciais a par das exportações e importações através de viagens em embarcações ou por terra, tornou-se mais fácil, por razões de comodidade, criarmos um bem comum, o dos metais transformados em moedas passíveis de troca.

Este surgimento levou ao início da especulação e o valor dos bens passou a ser variável não só de acordo com as diferentes culturas com que eram feitas as trocas como também de acordo com a lei da procura e da oferta, e de acordo com a “esperteza” do mediador da troca (que já não era o produtor do bem) que queria ganhar algum na mediação desta troca.

Ora muito bem, nós Portugueses nunca fomos muito produtores, desenvolvemos mais a nossa veia de mediadores. Trazíamos os bens dos continentes recôndidos de forma rápida e por rotas descobertas por nós, e vendíamos estes produtos nos países que tinham poder de compra, por valores muito acima dos de aquisição. É de facto o início da mediação pura. E que só funcionava porque conseguíamos adquirir bens raros por preços ridiculamente baixos. Resultava por serem bens raros e por o seu valor no mercado dos países informados e de recepção ser muito superior ao valor do mercado de aquisição. Assim os mediadores (Portugal, ou os Portugueses espertos) ganhavam muito dinheiro com a posição de mediadores.

Como manter uma situação semelhante, nos dias de hoje? Quando vivemos num mundo globalizado, onde as pessoas dos diferentes países vão tendo a noção do valor dos bens, embora varie de acordo com as regras dos mercados internos, que têm imensas variáveis para além do valor da moeda de cada país.

A situação de pagar pouco pelos bens adquiridos, que no fundo significava pagar pouco pelos serviços prestados na plantação, colheita e transformação desse bem, tem situações paralelas nos séculos posteriores e ainda hoje em dia na deslocalização das empresas para locais onde se consiga pagar pelos serviços de produção honorários irrisórios, mas adquirir valores exorbitantes na venda desses produtos.

Acontece que os produtos criados pelo mercado, trouxeram um efeito pernicioso, porque para vender estes bens para além dos habituais mediadores foram criados meios de divulgação e de criação da necessidade de compra destes bens, porque não eram assim tão necessários. Tiveram de criar necessidades no mercado de venda, que partem de estudos minuciosos dos hábitos do público-alvo. Nestes estudos identificam-se necessidades, medos, paixões, vícios e ambições que determinam o direccionamento das respostas que os produtos passarão a dar (respostas verdadeiras, aproximadas ou fictícias). Acontece que esta ciência chamada de “propaganda”, “publicidade” ou mais fino de “marketing” vive da especulação e é também mais uma faixa de mediação.

Se produzimos uma maçã por cada uma delas temos um produtor, um formador do produtor para que a maçã seja produzida em conformidade com as regras e leis em vigor, um inspector da produção da maçã, um transformador da maçã num produto atractivo, um criador da necessidade de venda da maçã , um mediador de venda e só então finalmente um comprador dessa maçã. Ou seja o lucro de venda da maçã é repartido por esta gente toda, em partes desiguais obviamente. O produtor pertence sempre a uma faixa de trabalho que recebe menos. Esta descontente começa a extinguir-se e a produzir menos. Daí que o valor do dinheiro torna-se inferior porque por uma maça temos de pagar o trabalho a esta gente toda e porque a maça passou a ser um bem raro, porque se deixou de produzir em grandes quantidades.

Falta introduzir a questão dos que emprestam dinheiro a todos estes agentes acima identificados, porque estes então vivem do disparate do dinheiro passar a valer menos virtualmente, porque assim para pagarmos por 100 euros emprestados há 10 anos temos de pagar com juros as perdas de valor desse dinheiro. Ou seja a entidade que emprestou o dinheiro ganha muito mais do que 100 euros.

Muito simples, acho que qualquer criança percebia porque vivemos assim hoje em dia.

1 comentário:

disse...

muito bom é este texto.