2.1.07

o mais longo e sensaborão conto do mundo

A rapariga que se recusara casar com o rapaz, passou a ter mais tempo para construir a personagem que há muito projectara sobre si. Agora tinha a possibilidade de refazer-se numa amálgama de várias imagens justapostas, rigorosa e criteriosamente seleccionadas. Finalmente poderia dispender todo o seu tempo a cobrir com a sua burka o seu eu que repugnava. Fez-se uma nova mulher bombista que há muito já tinha implodido todo o seu interior, estava esburacada, e vazia, restava-lhe agora implodir o seu exterior e construir-se à sua imagem.
Mas assim como em muitas obras esta seria eterna, interminável, a exigência nunca possibilitava que a burka fosse retirada e nunca se viu de novo o rosto da mulher invisível.

in vaziodegente 2006

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